sexta-feira, 29 de outubro de 2010

"Confraria da Costa", 2010...para não ficar à deriva




Quase todo mundo tem algum amigo que faz parte de uma banda local. E é muito comum que, em nome da amizade, a gente acabe indo aos shows e até comprando (ou ganhando) discos, mas não é costume dar muita atenção. Há alguns anos conheci Marcello, um arquiteto-guitarrista que tinha uma banda chamada Gato Preto. Nunca tinha escutado antes, mas arrisquei a ir a um show em Curitiba. E devo confessar que me surpreendi positivamente com a banda e o show: um som vigoroso, diferente e sobretudo, original.

Desde então, além de amigo, virei fã do grupo que há cerca de um ano passou a se chama “Confraria da Costa” e gravou um CD excelente com o mesmo nome.

Misturando sons de guitarra, baixo e bateria com bandolins, violinos e flautas, o Confraria abre o disco com “Homo Tudo Sapiens”, cuja introdução puxada pela flauta lembra o som do Jethro Tull. Letra original, irônica, cheia de trocadilhos: não há nada que homo não sapiens responder.

O ritmo pirata que caracteriza tanto esse som intensifica-se nas faixas seguintes com “Coisas piores acontecem no mar” e “À Deriva”, em que o violino do Jan não só dá o ar de sua graça, como é responsável por uma introdução matadora: Quem te deixou neste mastro à deriva sabia nada de navegação.

Na 4ª faixa, “És Cadavérico”, destaca-se, junto com a voz rouca do Ivan, o bandolim do Marcello Stancatti. Trata-se de uma das canções mais marcantes que levanta o público cativo durante seus shows, principalmente em Curitiba, onde tive oportunidade de testemunhar.

Como a vida de pirata não é só alegria, momentos de isolamento também são retratados, como em “Confidencial”: tranque a porta da minha casa..depois preguem as janelas...por um tempo eu acho ... vou me ausentar. Tempo para respirar...

A seguir, o “Canto dos Piratas” reforça mais ainda o espírito dos marujos. Difícil desassociar esse som com o balançar de um copo de rum ao ritmo de uma nau: A vida é cruel, e foge veloz, Ela vem lentamente, cala nossa voz, Cega nossos olhos, não tem pena de nós, Ela quer que nós, juntos, fiquemos tão sós. Outro detalhe interessante dessa canção, muito bem reparado pela Carol (também conhecida como minha namorada), é que as estrofes do refrão alternam-se ao melhor estilo de Construção, de Chico Buarque. Genial!

Sempre há uma carta embaixo da mesa, sempre há uma carta fora do lugar. As apostas entorno dos jogos de cartas ou de um tabuleiro de xadrez também têm vez no ritmo dos marujos, assim como as trapaças que rodeiam esses jogos em “Embaixo da Mesa”.

A letra de “Certamente a mente mente” traz consigo, ao som encorpado que além dos por trombone, trumpete e saxofone, uma mensagem mais poética.

Em “caravela estelar”, o bandolin e o violino ocupam novamente lugar de destaque com uma sonoridade que nos faz viajar pelo mares negros.

O tom (waits) lamurioso e solitário de “Confidencial” volta com força em “Réquiem”. A influência do músico americano de voz rouca e composições intrigantes fica mais aguçada com o som de Trombone de Raule Alves. Só não perguntem quando eu vou voltar.

O disco fecha com outra canção que se tornou um clássico do Confraria da Costa desde o tempo em que se chamavam Gato Preto. “Não abra essa caixa com cobras” tem talvez o refrão mais conhecido e cantado por todos os fãs que acompanham os shows dessa banda. E a flauta ao melhor estilo Ian Anderson tornou-se uma das marcas dessa música.

Pela originalidade acompanhada de um som marcante, trata-se muito mais do que um daqueles grupo de amigos. Eu me arriscaria dizer que é uma espécie de gipsy-punk-rock, que mistura influências de Gogol Bordello, Jethro Tull e Tom Waits (não é a toa que sua imagem se faz presente na bela capa) com letras em português, em uma referência aos sons de piratas. Fui claro? Não?! Ainda bem... assim quem sabe levanta mais curiosidade a respeito. Basta abrir os ouvidos para o novo e certamente qualquer ouvinte de bom gosto também se tornará um fã.

Enfim... fazendo jus ao som pirata, o Confraria da Costa disponibiliza, oficialmente em seu site, o disco para baixar gratuitamente, sem frescuras: http://www.confrariadacosta.com.br. Acesse, baixe...e boa viagem.

[Paul]

9 comentários:

  1. Ok, nesse blog vale tudo, até a discografia completa de Lenine. Mas começar a botar banda de amigo ou do bairro também é demais. Vou botar aqui o Lordão, o Phase (também conhecido como Pheses), o Farol Beach Band...

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  2. Comentário do Baiano diretamente do Muro das Lamentações...
    Digo só uma coisa: melhor do que a maioria do que você colocou, com o detalhe que eu escutei, ao invés de vc que critica sem escutar
    Paul

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  3. Me perdoe Paulinho, mas o comentário do Baiano foi ótimo. Vou colocar um demo de Rafael Mogi (é que ele toca tb. em bar, mas não gravou disco), irmão de minha grande amiga Crhis.

    Ele já tá produzindo um com ele de sunga verde na capa.

    Zeba.

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  4. O blog é sobre Discos gravados, o que é o presente caso (se seu amigo é bom, que grave um disco e vc pode publicá-lo onde quiser).
    Lamentável é postura do Luma ou do Zéba que ao invés de resolverem escutar o CD, resolvem ironizar. Atitude típica de preconceituosos que se difundiram pelo Brasil recentemente. Triste perceber que pessoas esclarecidas adotam posturas iguais.
    Zéba...sugiro que continue vendo suas novelas e comprando as coletâneas. Ao Luma, continue curtindo seus ritmos baianos.
    Paulo

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  5. Infelizmente a censura voltou... Quem não escreve nada deveria deixar em paz quem escreve. Os super-donos do bom-gosto absoluto não postam as suas descobertas geniais porque? Por mim, a gente fechava este espaço, perdeu o sentido e o tesão.

    Desculpem-nos os leitores que tem que ficar aturando bate-boca entre os blogueiros.

    [M]

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  6. Ih, Zeba, olha os caras!
    Perderam completamente o senso de humor.
    Quanto stress! Eh muito barulho por nada.

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  7. É verdade! porém uma leitura mais atenta nos indica senso de humor refinado, veja o trecho que fala em nossos leitores. Tempestade em copo dágua.

    E acabei bx o disco segundo sugerido. Deve, realmente, ser divertido num bar entre amigos.

    ZEBA.

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  8. Os senhores donos da razão podem enfiar o blogue e seus reis onde melhor vos aprouver... Vamos fechar este espaço, que já ficou chato e cheio de chatos... [M]

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  9. Disco foda, quem não gostou que va se fuder!

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