domingo, 19 de junho de 2011

Antes do fim, Dorsal Atlântica



Quase no fim do domingo metal, vamos aos antigos e desconhecidos crássicos do metal nacional.

A Dorsal Atlântica é uma banda carioca formada nos anos 80 pelo lendário Carlos 'Vândalo' Lopes.

O disco aqui resenhado foi pioneiro na mistura de gêneros que na época eram como água e óleo, o punk hardcore e o metal thrash. Mal gravado devido a restrições orçamentárias e provável inexperiência de estúdios em gravar metal na época, foi regravado e relançado em 2005 com o nome de 'Antes do fim, depois do fim'.

Esse eu tenho e ainda ouço em vinil. O original nunca foi lançado em cd.

Ao contrário da maioria de letras de metal, este disco, adotando uma postura mais punk, falava de problemas cotidianos e sentimentos.


'Caçador da noite' inicia com aquele som zumbido e rápido de guitarra, além da voz assustadora do Carlos, cantando sobre um serial killer. Solo criativo e em estéreo, extraía-se sangue de pedra no estúdio.


'HTLV-3' é mais uma rápida, falando sobre o vírus da aids, criticando a ignorância e o preconceito numa letra panfletária:

"As pessoas se incomodam com a “liberdade”que o mundo tem

Se aproveitam de uma doença

Discriminar mais as minorias

Quatro letras condenam à morte

Foram escolhidos

Teu sêmen vai gerar mortos

Teu sangue, veneno maldito

HTLV-3 destroí

Verdadeira caça às bruxas promovida pela imprensa

Achem os culpados para salvar as famílias dos burgueses"

O legal de muitas músicas desse disco é que de repente a música muda pra um ritmo mais lento, o que dava origem às rodas nos animadíssimos shows, inclusive um no Maracanazinho abrindo pro Exciter e Venom, onde não se entendia nada, um som horrendo...


'Álcool' é das melhores do disco, uma guitarra zumbindo e a velocidade da luz fazem vc entrar em espasmos...Por incrível que pareça é crítica mas com numa abordagem oblíqua com o ponto de vista do cara que se embebeda. Esta aqui tem um dos melhores breaks do disco, sensacional, dá pra ver a roda se formando e as botas passando perto da sua cabeça.


'Depressão suicida' tem aqueles gritos agudos à Rob Halford, quase cômicos, mas divertidos. Mais uma rápida e com um solo cheio de alavancadas.


'Vorkuta' é uma crítica a Stalin, no mínimo inusitado, principalmente pra adolescentes que nem sabiam do que se tratava.


'Joseph Mengele' você deve imaginar sobre quem se fala (antecipando 'Angel of death' do Slayer). Mais uma rápida (cansa um pouco os ouvidos, admito), mas com mais um break maneiríssimo. E esta música tem uma surpresa muito legal que deve ter estragado muitos toca-discos: ao final da música uma voz que parece alemão, mas que girando o disco ao contrário, mostrava ser na verdade um monte de palavrões...divertidíssimo.


'Guerrilha' é mais cadenciada, quase lenta em comparação às outras. Parece panfletária, mas na verdade há uma crítica sutil ao messianismo comum no meio:

"Rifle responde força com fogo

Você tem um ideal

Meio caminho entre vida e morte, entre herói e assassino

Precisa lutar

Guerrilha por liberdade

Guerrilha em busca da verdade

Todos cegos

Só você vê a luz

Ao vencedor resta a história

De que vale a vida de alguns para salvar milhões?

Luta sozinho, luta por todos"


'Inveja' também é mais arrastada, com um riff heavy maneiro, depois dá a acelerada com guitarras em estéreo e muitas quebradas da bateria.

"Por que o ser humano não consegue se ver livre?

Não aprende com os erros do passado

Lições de cobiça e rancor

Se a vida é tào efêmera

Por que tantos sentimentos fúteis?

No íntimo você não quer errar, mas nào consegue domar

Só o futuro vai julgar

O impulso imbecil

Inveja

Os olhos e a alma cegos continuam a se corroer"


'Morte aos falsos' era um discurso metal da época, dirigindo-se aos apreciadores de última hora, diluidores do movimento. Bullshit, nem sei como um cara inteligente caiu nessa balela. Mais tarde ele mesmo montou uma banda mais hard rock, a Mustang.


Enfim, baixe este sem dó, imperdoavelmente está fora de catálogo.

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