terça-feira, 28 de junho de 2011

E se?... (tudoaomesmotempoagora - Titãs, 1991)




De certa forma, o passo dado no disco Titanomaquia era ensaiado aqui, Tudo ao Mesmo Tempo Agora. Os Titãs vinham de três discos de tirar o fôlego, que os deixaram enterrados a raízes profundas nos corações mentes dos homens e mulheres primatas, o pulso pulsando e a miséria musical para sempre extinta de uma geração que era chamada de coca-cola.


Tudo ao Mesmo Tempo Agora talvez seja o depoimento de uma banda que não queria mais ser “ícone” de uma geração, ei! Estamos abandonando de vez a cola, ficamos só na coca! Acho o último grande álbum deles, uma missa de réquiem, ainda que nos álbuns seguintes, aqui e ali, colham-se alguns frutos saborosos. É o disco onde o compositor olha para dentro de si mesmo e explode seus conflitos internos e externos de maneira irreprimível e irrevogável.


A capa do disco já mostra isso, uma capa desagradável de se olhar, recortes de Atlas do corpo humano, as cores de açougue e as palavras grafadas no alfabeto grego, como quem avisa: este disco é só nosso e não vai ser fácil ouvi-lo, mais ainda gostá-lo. Pra quem queria mais do mesmo, uma decepção. Pra quem se dispõe a acompanhá-los como quem confia nas viagens de um grande amigo: vale a pena.


A lista de músicas não aparece na capa nem contra-capa, onde só consta, em letras miúdas, mais um aviso: composto arranjado e produzido por Titãs. Isso que pode parecer um enigma, na verdade se revela a pista mais evidente aqui.


As músicas de rádio deste disco não eram fáceis. Clitóris faz Igreja soar como canção natalina, e Saia de Mim é a canção sem-vergonha de ser humano, do ser-humano. O último disco com Arnaldo e talvez aquele que sugeria a Nando Reis a porta da rua. Algumas das canções são bem fracas, como Isso Para Mim é Perfume, uma forçada de barra para parecer mais agressivo do que se é. Mas é um disco mais centrado no som da banda, que está muito afiada, o núcleo guitarra(s), baixo e bateria dá as cartas aqui, então, aquela que era conhecida pelas letras e diversos vocalistas se revezando, troca de foco, e o sinal são canções com letras curtas, de conteúdo mínimo, hai-cais a la Titãs, roc-kais, como Obrigado, Cabeça, Se Você está Aqui, e faixa que dá nome ao disco e o encerra de maneira acachapante.


Em tom de depoimento, confessionário vem Eu Não Sei Fazer Música e Não é Por Não Falar, enquanto que em Filantrópico, Eu Vezes Eu e O Fácil é o Certo são os ‘velhos’ Titãs, dando o ‘toque’. Mas as minhas favoritas deste disco mesmo, que mostram a banda viajando em outras direções são e Agora. Essas duas são as melhores músicas de toda a discografia dos Titãs... Pra mim pelo menos. Música muitas vezes agente ouve e gosta mais pelo conforto de se encontrar em mares conhecidos, do que pelo espanto causado pelo novo. E os Titãs sempre foram a banda do espanto, e o espanto aqui vem nestas duas canções, com um som de banda magnífico que eles não tinham ainda alcançado em nenhum dos discos anteriores...


Já colocou todas as roupas na mala? Agora que agora é nunca

A sua casa já desmoronou no meio da sala? Agora posso recuar

você já tentou varrer a areia da praia? Agora a última resposta

Já dormiu sozinho num canto de rodoviária? Agora a língua em minha boca

Já dormiu com alguém por migalha? Agora é só meu corpo nu...


Outra pista é o fato de que, diferente do que acontece nos discos anteriores, a autoria das composições não é explicitada faixa a faixa, sinal de que, ou o processo de composição foi diferente, ou ela é menos importante aqui do que a execução, que se torna mais autoral até do que a própria fabricação... E a última pista talvez seja o Flat-Cemitério-Apartamento, música onde a chave é... E se ?


Pois é, neste disco os Titãs estão dizendo isso:

E se ?


[M]

Um comentário:

  1. Muito massa tua resenha! E pena eu não ter o cd pra ouvir hoje à noite...
    Aliás, será que o "tudo ao mesmo tempo agora" pode entrar nas trocas-transatlânticas?
    [ANDRÉA]

    ResponderExcluir