segunda-feira, 30 de abril de 2012

Brazil tipo exportação



Novamente resolvo escrever um resenha motivado pela percepção de que estava faltando algum trabalho de um dos músicos que mais contribuíram para divulgar a boa música brasileira no exterior: Sérgio Mendes.

O disco escolhido, In Person at El Matador! Sérgio Mendes and Brasil’65, foi gravado em uma espécie de piano-bar em São Francisco (El Matador), palco de apresentações do Sérgio Mendes assim que fixou residência nos Estados Unidos nos anos 1960.

Acompanhado de gente da melhor qualidade como Rosinha de Valença (já resenhada nesse blog) ao violão, Sebastião Neto no baixo, Chico Batera na bateria (obviamente) e com a voz de Wanda de Sah, o disco começa com o belo som do piano de Sérgio Mendes em Reza, canção instrumental de autoria de Edu Lobo e Rui Guerra para seguir com “O Morro”, de Carlos Lyra e Guarnieri: “(...) ama, o morro ama Um amor aflito, um amor bonito Que pede outra história”.

Com repertório bossanovístico tão bem selecionado, obviamente não poderia faltar contribuição da parceria de Vinícius de Moraes e Baden Powell com “Samba de Astronauta”, com o inspiradíssimo violão de Rosinha de Valença.

Não faz assim... Tem dó de mim... Não posso mais chorar... Não vê que o amor é mais... É muito mais do que sonhar”... Em “Tem Dó de Mim”, de Carlos Lyra, novamente o piano de Sérgio Mendes ganha a companhia da voz macia de Wanda de Sah. Depois de outra bela instrumental (“Jodel”, de João Donato), o disco segue com outro destaque do violão de Rosinha de Valença em “Samba de José”.

A sétima canção é a instrumental “Noa Noa”, de autoria do próprio Sérgio Mendes. Para acompanhar o belo solo de piano, a levada de Chico Batera, algo que, segundo Ruy Castro em Chega de Saudade, poderia soar como heresia para puristas da bossa nova. Confesso que não sabia o nome dessa canção até escutar o disco atentamente, mas a impressão que tenho que já escutei como música de fundo em algum restaurante no Rio de Janeiro.

O ponto alto do disco inicia-se com o medley de Black Orpheus que reúne, em uma mesma faixa “Manhã de carnaval”, “Batuque de Orfeu” e “Samba de Orfeu”. Trata-se de canções que contaram com composições de Luis Bonfá e Antonio Maria para a trilha sonora do filme “Orfeu Negro”, de Marcel Camus rodado em 1959 no Rio de Janeiro. Foi uma adaptação da peça “Orfeu da Conceição” de Vinícius de Moraes que ganhou a Palma de Ouro em Cannes em 1959. Esse medley é finalizado de forma magnífica com “A Felicidade”, de Tom Jobim, na voz de Wanda de Sá.

Para completar o ponto alto do disco, “Arrastão”, clássico da música brasileira de Edu Lobo e Vinícius de Moraes, imortalizado na voz de Elis Regina, mas que ficou muito bem nessa versão de Sergio Mendes com Wanda de Sah. Depois o disco finaliza com outra versão instrumental: “Caminho de Casa”, de João Donato.

Esse disco até pouco tempo era difícil de ser encontrado, mas graças à excelente iniciativa do Charles Gavin (sempre ele) e da Livraria Cultura, recentemente foi relançado na série denominada “Coleção Cultura” e eu pude adquiri-lo em formato de CD. A capa, inclusive, contém uma pintura de autoria de Wesley Duke Lee dedicada ao Sergio Mendes.

No fundo, Sergio Mendes e companhia fazem parte daqueles músicos brasileiros que tanto tem contribuído para divulgar a boa música brasileira no exterior, fato que pude constatar recentemente ao me deparar com suas canções em restaurantes e lojas de disco em países como Áustria ou Hungria. Ou seja, não é só modismos passageiros que exportamos por aí como muitos podem pensar...
Paul

6 comentários:

  1. Caro Paul. Nao entendi o porquê da bateria ser uma heresia pros puristas da bossa nova. Se a bossa nova é uma nova "batida" e a percussão está na origem da MPB, via samba, consequentemente está presente na bossa nova. Mas valeu o post. Sergio Mendes sempre sofreu patrulha ideológica por ter americanizado a bossa nova, coisa que aliás Tom Jobim também sofreu. Puro preconceito.

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  2. Muito pertinente seu comentário (me desculpe, mas veio como anônimo e não consegui descobrir seu nome).
    No caso de "Noa Noa" essa percepção de que as baterias estariam exageradas para os "puristas" (digamos assim) eu encontrei no livro Chega de Saudade, do Ruy Castro, que julgo ser um dos maiores (senão o maior) especialista em Bossa Nova. Talvez eu reescreva essa parte explicando isso.
    Concordo com suas observações. Escreva sempre! Valeu
    Paul

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    1. O livro realmente é bom, coisa e tal. Mas Ruy Castro o maior especialista em bossa nova?...Uma música, uma música dele maestro Zezinho! (ZEBA)

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  3. Pronto: inclui a referência devida agora. Agradeço a observação novamente.

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  5. Finalmente um blog bem a cara do Brazil gostei muito parabens...

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