sexta-feira, 20 de abril de 2012

João voz e violão, João Gilberto



João é um gênio. Um dos últimos, ao lado de Hermeto, Naná e alguns poucos, ainda vivos.

Esse ano ele faz 80 anos, se não me engano (li numas biografias da net que ele é de 10/06 de 1931 ou de 1934, conforme o site...), mas o disco aqui vem porque é mais um dos muitos excelentes dele. E esse aqui ainda tem a Camila Pitanga na capa...

Com produção de Caetano Veloso (na verdade consta 'uma produção UNIVERSAL MUSIC dirigida por Caetano Veloso'), retoma os eternos clássicos da bossa nova, incluindo novidades, se é que se pode chamar assim, como 3 músicas da geração um pouco mais nova, a da Tropicália, que João torna, como sempre, músicas suas...

Como o título avisa, é só a voz (pequena) e o violão (tocado pelas mãos do Cara), mas isto é muito mais do que suficiente.


Desde que o samba é samba (Caetano Veloso) é uma música que provavelmente o Caê nunca mais tocou ou ouviu do mesmo jeito, é uma releitura torta e sensacional, sem acordes/compassos desnecessários. Foda.

Voltando ao repertório familiar, Você vai ver (Tom Jobim) traz uma voz íntima e em alguns momentos emocionada, linda e aparentemente lenta, mas vai tentar tocar junto...

Eclipse (Lecuona) é bem lentinha, respirada, degustada e sorvida com todo o gosto do mundo. Quase tem cheiro, ou pode ser sinestesia psicodélica.

Não vou pra casa (Antonio Almeida/ Roberto Roberti) é daqueles sambas auto-referentes, apologia à malandragem e boemia, gingado e malemolente.

Desafinado (Tom Jobim/ Newton Mendonça) é mais uma do repertório clássico, mais uma das dezenas de gravações, mais uma sempre esperada, mas mesmo assim soa renovada, sempre há alguma mudança no ritmo, nos acordes, na melodia vocal. Impressionante e inexplicável.

Eu vim da Bahia (Gilberto Gil) é um reconhecimento do talento dos tropicalistas, não que eles precisem disso, mas vindo do Mestre é sempre benvindo, né? Todos viemos da Bahia (o Brasil é baiano, nasceu na Bahia) e todos voltamos pra lá...

Coração vagabundo (Caetano Veloso) é uma das mais antigas do Caê, mas sempre parece nova e atual, ele mesmo gosta muito até hoje (ao contrário de 'Alegria alegria' por exemplo) e aqui João não inova tanto, dando tempo pra respirar e seguir a harmonia original. Linda, sensacional, genial. Tem até um lalaiá no final...

Da cor do pecado (Bororó) é tão familiar e íntima que realmente parece que ele está logo aqui cantando pra mim, viagem eu sei, mas um humano equilibrado é insano (sabedoria popular veiculada pelo Facebook, nosso oráculo do momento). Delícia. Tô meio baiano hoje, sou muito influenciável...

Segredo (Herivelto Martins/ Marino Pinto) tem até umas falhas (humanas) na respiração e articulação do canto, coragem é manter isso no disco em tempos de protools, autotunes e quetais. Canção triste e bela, com pitadas de ironia.

Pra terminar com o sempre presente gostinho de quero mais, Chega de saudade (Tom Jobim/ Vinícius de Moraes). Depois de iniciar o movimento da Bossa nova, foi regravada e diluída muitas e muitas vezes, mas aqui retorna pro seu legítimo dono, soando mais uma vez como deve ser, revolucionária, com acréscimos de acordes mais ricos com extensões novas (não vou entrar em detalhes harmônicos, pela chatice e porque meu ouvido não é absoluto). Harmonia perfeita e redonda, melodia surfista e João.

Porque melhor que o silêncio só João.

(Dão)

Um comentário:

  1. João gilberto representa o céu e o inferno da música brasileira.A partir de sua "revolução" sonora e silenciosa,muita gente boa passou a ser vista como ultrapassada e/ou cafona(uma injustiça).

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