sábado, 6 de outubro de 2012

Cidade de Deus - Antonio Pinto & Ed Cortes



Nem precisa falar do filme, um dos melhores da história, e isso em listas estrangeiras, como a do jornal inglês The Guardian. Mesmo a ótima trilha sonora foi por demais comentada, principalmente pela popularização da antes renegada fase racional de Tim Maia, a ponto da revista Rolling Stone brasileira considerar aquela boa cópia de bandas americanas um dos dez melhores discos brasileiros da história. O disco é bom, claro, mas fala sério. É muita falta de conhecimento da história. Ou muita vontade de embarcar num hype. Ou os dois, não importa, revista de rock pode até criar um hype, mas embarcar em um é que nem chegar atrasado e ainda pegar o bonde errado. É indesculpável. Bem, nunca mais perdi meu tempo com ela.
Mas voltando, o que foi pouco comentado foi a parte instrumental da trilha sonora, composta por Antonio Pinto (já comentado aqui no disco Pequeno Cidadão) e Ed Cortes. Verdadeiro tratado e síntese do funk brasileiro. Mas não o carioca, falo daquele criado por James Brown e que por aqui foi devidamente adaptado e misturado, gerando música de altíssima qualidade, inclusive pelo já citado Tim, que é influência, claro. Assim como a Black Rio. E Jorge, claro, num violãozinho ali no meio de Funk da Virada. Parece que quiseram homenagear seus heróis, mas de maneira sutil.
A trilha começa literalmente com porradas, socos na porta e o clássico diálogo pulpfictioniano: Quem é, quem é? (...) Quem falou que a boca é sua, rapá?  (...) Colé Dadinho? Dadinho é o caralho, meu nome agora é Zé Pequeno, porra! E atacam os metais.
Não vou descrever as músicas, não, essa é mais a onda de Dão, mas a sequência instrumental começa com as três primeiras (Meu nome é Zé Pequeno, Vida de otário e Funk da virada), perfeitamente mixadas, prontas pra botar numa festa. São curtinhas, dá 5m30 no total.
A quarta música, Estória da Boca, é mais lenta, cuiquinha pontuando, clima de samba, combina com a sexta, A Transa, mais lenta ainda, que o nome já diz, é cheia de suingue e bem sensual.
Daí, pule pra 13a e 14a, Morte de Zé Pequeno (sacanagem, já conta o final o filme) e Batucada Remix, uma versão eletrônica de todas elas juntas, mixadas pelos DJs Camilo Rocha e Yah.
Nunca ouvi ninguém falar, mas dá pra perceber influências em muita coisa que foi feita dali em diante, o Drum‘n’Bass brasileiro sendo um. Certamente influenciou também o Bixiga 70, que terá seu disco de 2011 comentado aqui, e que desde já recomendo fortemente. Mais recentemente, Antonio Pinto participou, tocando baixo, compondo e arranjando, do Almaz, banda com Lucio Maia na guitarra, Pupilo na batera e Seu Jorge nos vocais, que atualizou a bossa-nova, incorporando psicodelia, peso e guitarras, e que também vai aparecer por aqui.
O clima geral é retrô, mas Pinto e Cortes foram muito além. Atualizaram os anos 70, juntaram um monte de groove e timbre antigo com umas batidas mais novas e mostraram que a caravana passa. E passa bem.

[LM]

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