terça-feira, 6 de janeiro de 2015

"É o que Temos" - Bárbara Eugênia


Nascida em Niterói e residente em Sampa desde 2005, Bárbara Eugênia estreou com pé direito ao participar da trilha sonora do filme “O Cheiro do Ralo” dois anos mais tarde. Desde então ela tem atuado em diversos projetos solos ou em conjunto com outros músicos, sempre bem acompanhada, exibindo seu talento tanto como intérprete, quanto como compositora.

Depois do promissor “Jornal da Bad” em 2010, seu primeiro trabalho solo, Bárbara Eugênia seguiu conquistando terreno até que obteve como prêmio no Festival MPTM (Música Para Todo Mundo)” a gravação de seu segundo álbum: “É o que Temos”, lançado em 2013.

Com a produção e participação de Edgard Scandurra (já parceiro dela em outros projetos)[1] e de Clayton Martin (baterista do Cidadão Instigado), o disco ficou tão bom que faturou o prêmio Multishow naquele ano. Vamos ao disco então...

Depois de iniciar suavemente com “Coração”, a segunda canção merece destaque especial por resgatar “Porque brigamos”, sucesso da Jovem Guarda no início do anos 70 com a Diana interpretando uma versão de Rossini Pinto para “I am...I sad” de Neil Diamond. A nova versão ficou tão boa que até mesmo o som do órgão de Astronauta Pinguim (tecladista) consegue nos levar para a atmosfera “brega” (sem nenhuma conotação pejorativa) que fazia parte da gravação original da Diana. Para completar, o clipe dirigido por André Gagliardo e disponível no youtube é simplesmente genial.
https://www.youtube.com/watch?v=Nr5xeHMIGDQ

Tudo se resume, tudo se resume a uma
Uma dúzia, tantas dúvidas, as mesmas velhas dúvidas
E você numa atitude irresponsável me deixou suspenso no ar
Não é do meu feitio, mas vou entregar
Se foram as noites brancas que te dei
Por que essa roupa suja pra lavar
Se não tínhamos o menor cabimento
E pensando bem a gente deu o que tinha que dar


Mantendo como pano de fundo uma crise de relacionamento, “Roupa Suja”, composta e gravada em parceira com Pélico, mostra toda a sua capacidade de se cercar de bons músicos. O clipe, lançado recentemente em uma versão mais “acústica”, também merece ser observado com atenção: https://www.youtube.com/watch?v=pudTZfJllps

Você devia mudar o seu rumo
Você devia achar que merece mais
“O Peso dos seus Erros”, a quarta canção do álbum, nos leva novamente para o ambiente da Jovem Guarda, mas desta vez com uma canção de sua autoria.

Em “I Wonder”, a parceria desta vez é com os músicos de Mustache e os Apaches. O banjo de Pedro Pastoriz e o coro bem arranjado produzem um resultado muito criativo.

A próxima canção, “Sozinha” é uma adaptação feita por ela mesma de “Me siento solo”, do francês Adanowsky (Adan_Jodorowsky). Eu, particularmente, não conhecia a original, mas cheguei à conclusão que a versão da Bárbara Eugênia ficou muito melhor.

A sétima música, “Jusqu'a La Mort” é, pessoalmente, uma das minhas prediletas. Para falar de amor, desta vez ela se arrisca a compor em francês e acertou a mão incrivelmente, com uma sonoridade que me faz pensar em um improvável casamento do rock progressivo (Pink Floyd na veia) com o tropicalismo. O som de uma das guitarras me remete ao vocal da Gal Costa nos velhos tempos (viagem minha). Como se não bastasse, o clipe é de uma sensualidade de muito bom gosto: https://www.youtube.com/watch?v=26qBo16Uo0A

Em seguida, ela acelera o ritmo em um excelente rock com “Ugabuga Feeling”, canção na qual o amor se coloca de uma forma mais visceral e carnal, sob uma batida bem primitiva. Sensacional.

Eu piso na poça debaixo da chuva
Sai um arco-íris com raios de sol
Eu danço no vento, me perco no tempo
Balanço, sacudo o cabelo e não fico só
Não tenho medo da chuva e não fico só
“Eu Não Tenho Medo Da Chuva e Não Fico Só”, a próxima, é fruto da sua parceria com Tatá Aeroplano (que no primeiro disco já tinha rendido bons frutos), contando ainda com a participação de Chankas, com quem ela gravou o trabalho mais recente: Aurora. Nela o amor flui leve, sem medo.

Em “You wish, You get it”, retoma o tom mais animado,  alto astral, em uma feliz composição dela, desta vez em inglês, tal como a canção que encerra o álbum, “Out to the Sun”, que conta com a participação especial do violoncelo de Peri Pane, outro parceiro que rende bons trabalhos para ambos, como na “Note”, que faz parte do disco dele.

Por fim, tendo no amor das mais diversas formas como fio condutor, ela vagueia pelas canções com sua voz doce e afinada. Uma ponte unindo Niterói a São Paulo, canções próprias a versões, letras em português àquelas em inglês ou francês. Quase sempre com clipes muito bem produzidos (vale uma busca no YouTube na página dela). A sua beleza se traduz em suas canções. A continuar assim, sua carreira vai longe. Por enquanto, é o que temos, mas para Bárbara, nunca é tarde, nunca é demais.

 [Paul]






[1] Entre outros projetos dela com Scandurra, destaca-se o a homenagem a Serge Gainsbourg com o Les Provocateurs e a gravação do programa MTV na Brasa, com uma versão matadora de “Dor e Dor”, do Tom Zé: https://www.youtube.com/watch?v=wbbKbTrl0WU

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