domingo, 19 de março de 2017

Lindo Sonho Delirante – Bento Araujo, 2016



Porteira que passa um boi, passa uma boiada. Neguinho abriu pra postar um livro, lá vem outro.

Lindo Sonho Delirante – 100 discos psicodélicos do Brasil saiu em 2016 pela Poeirapress, e o autor é Bento Araujo, jornalista que escreve, edita e distribui (e cuida com carinho d)o Poeira Zine, especializado em Rock, principalmente naquilo que meu sobrinho Vitor chama de ‘universo bolha’. Ah, Vitor e Bento são amigos de infância, e foi assim que eu conheci o poeira. Além disso, Bento é colecionador, o que pode ser até mais interessante para um trabalho deste tipo do que ser jornalista (e o cara é os dois, então...)


É onde você encontra tanto o fanzine quanto o livro. Diferente do livro resenhado anteriormente, este aqui é mais informativo do que analítico. Ainda assim, vale cada centavo. A edição é caprichada, o formato é quadrado (ou quase!) e não é à toa: a brochura é dividida entre o texto à esquerda da divisória central e a foto da capa a que se refere, à direita. E a capa é essencial pois a intenção é falar de psicodelia, e o autor adverte já no prefácio que a arte da capa entrou em consideração com peso enorme – talvez tanto quanto a música?

Da mesma forma que no post anterior, adverte-se o óbvio: devido à limitação de espaço, o autor seleciona dentro de um período que vai de 1968 a 1975, 100 (cem) discos. E mais uma vez, não vale a pena chorar pelo que ficou de fora: massa é curtir o que está ali.

Os tropicalistas, Gil, Caetano, Gal, Tom Zé, Duprat... Os Mutantes e Secos Molhados... Galera do samba e bossa nova como Jorge Bem, Marcos Valle e João Donato... Teoricamente impensáveis Erasmo Carlos e Ronnie Von (são quatro discos da fase psicodélica do príncipe!); bandas emblemáticas da época como Som Imaginário, Casa das Máquinas, Moto Perpétuo, o Têrço... uma geração nordestina pra lá de porreta com os primeiros discos dos Novos Bahianos (na época escrevia-se assim), Alceu, Geraldo Azevedo, Zé Ramalho. Toda essa galera tá aqui.

Mas o melhor do livro mesmo fica reservado para aquilo em que o Bentão é especialista: o cara que você não conhece, nunca ouviu falar, não sabia nem que existia (não você que está lendo, claro, você conhece tudo... falo da massa, da patuleia, do povão...): Suely e os Kantikus, Luiz Carlos Vinhas, Loyce e os Gnomos (este vale a pena mencionar o título do compacto: O Despertar dos Mágicos), Célio Balona, Brazilian Octopus (a capa deste é sensacional, não só a foto, mas a história. Não, não vou contar. Como diria o Tim Maia: lê-ê-ia ô livro!), Equipe Mercado (o nome do compacto é uma viagem à parte...), Free-son, Tribo Massáhi, Guilherme Lamounier, Sidney Miller, Arnaud, Perfume Azul do Sol... E por aí vai. Cito uns nomes, talvez um pouco cansativo, mas é pra dar um gostinho.

As resenhas individuais sobre os discos são curtas (uma vez que a página de texto inclui, em duas colunas, uma versão em inglês). Sacrifica-se um pouco de informação, mas a leitura fica mais dinâmica. Ate porque, talvez, nem sempre sobre cada um deste discos conseguir-se-ia preencher uma página inteira de texto. Ainda assim, histórias curtas, curiosidades, personagens que hoje são nomes famosos, desfilam por estas páginas ainda como iniciantes, muitas das vezes como integrantes de conjuntos que pouca gente conhece. Eu por exemplo descobri que Hermeto Pascoal e Lanny Gordin estrearam em 1969 a bordo de uma banda (a mesma banda! Porra, como eu queria ter visto isso...) citada aqui. Outro personagem da cena psicodélica da época é ninguém menos que Jacques Morelenbaum. Isso eu só descobri aqui.

E pra finalizar, o mesmo golpe baixo: Incluí mais cem discos no blogue! Aha!
(Ainda que alguns deles já tenham sido resenhados aqui). 

Legal que o Bentão incluiu o Clube de Esquina, um dos meus favoritos de todos os tempos ainda que eu nunca tenha pensado nele em termos de psicodelia...

Última dica. Pra quem tem Spotify, Bentão preparou uma lista com o mesmo nome do livro, 164 músicas, mais de 9 horas de psicodelia nacional! No dilema do Dão, correr está definitivamente fora de cogitação!


[M]

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